segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Rock in Rio - Após 30 anos, os metaleiros continuam sujos. E barulhentos também.


Caro autor: por favor, estude aquilo que você desconhece antes de publicar um livro.

Ando lendo um bocado de coisa sobre música no Brasil ultimamente. Ou melhor, sobre o rock brasileiro nas décadas de 1980 e 1990. Daí tem aquelas histórias de sempre do rock de Brasília (Legião, Plebe e Capital) e do tal Brock (Paralamas, Barão, Ultraje, Engenheiros, Titãs e etc). Por motivos que ainda não compreendi plenamente (minhas teses incluem jabá, implicância e desinformação), existe um silêncio enorme sobre os grupos que fazem sons mais pesados, especialmente punk/hardcore e metal. Pouquíssimo se diz sobre Ratos de Porão, Inocentes, Garotos Podres e por aí vai. O mesmo acontece com o Angra, Viper, Dr. Sin, Centúrias, Sepultura, Sarcófago, Stress, Dorsal Atlântica e tantos outros. Pelo menos o Micka (Ricardo Michaelis, do grupo Santuário) está fazendo o documentário Brasil Heavy Metal para preencher essa lacuna. Assistam, vai ser show de bola!

Daí beleza, achei uma reportagem dos tempos do Rock in Rio 1 que não chega a 2 minutos e consegue descrever os fãs de metal como "barulhentos" por DUAS vezes. Aqui vai o vídeo. Vale umas boas risadas.


Pensei com os meus botões. Ah, era 1985, ainda tinha um bocado de gente que nunca tinha ouvido falar em metal. Cá entre nós, discos fundadores do Big 4 já haviam sido lançados. O Judas Priest já tinha feito Screaming for Vengeance e British Steel. O Maiden já tinha soltado a trinca Number of the Beast, Peace of Mind e Powerslave. Grupos como Whitesnake, Deep Purple, Led Zeppelin, Black Sabbath e tantos outros do hard/heavy já lançado algumas das melhores canções do gênero. Mas ok, deixa pra lá, mídia não-especializada é assim mesmo. Fala umas besteiras: diz que o Motörhead nunca veio ao Brasil, ou faz cara de paisagem e tenta desconversar enquanto o João Gordo detona a produção e os bastidores do evento. "Produção mambembe". O cara manda bem demais!

A tolerância terminou quando eu comecei a ler o livro que ilustra esse post. É, o senhor jornalista Luiz Felipe Carneiro, num livro de 2011, vinte e seis anos depois do primeiro Rock in Rio, retoma a mesma linha do vídeo acima. O livro se chama "Rock in Rio - A história do maior festival de música do mundo" e saiu pela Editora Globo (eu já devia saber o que esperar deles...). A parte boa começa ao digitar errado (não tem revisor numa editora desse tamanho?) os nomes de Cozy Powell (que virou Cozzy) e Rick Wakeman (que virou Ricky). Mas tudo bem, erros de digitação acontecem. O problema vem a seguir.

O Whitesnake, que nem é tão heavy assim, foi descrito como "Estreia do barulho" (p. 60). "Sem cenário e grandes efeitos, a missão era satisfazer a turba de metaleiros que aguardavam avidamente por barulho". O Dicionário Houaiss descreve baulho como algazarra, tumulto, revolta, motim, falta de arrumação. Turba, segundo o mesmo, é o vulgo, populacho, multidão de animais em desordem. O que dizer do Scorpions, "sucesso do demônio"? Ou do Rob Halford, que "arrancou uma profusão de urros da plateia"?

Senhor Carneiro, estamos em 2011!!! O rock e o metal estão aí completando algo em torno de meio século. Fingir que isso não existe - ou pior - desqualificar aquilo que não se conhece, é mostrar pequenez de espírito. Se os "grandes artistas" que o senhor descreve são o Kid Abelha, B-52's, Go-Go's, Dee-lite e outros, me pergunto qual o impacto duradouro deles? Trocentos anos depois, ainda ouvimos os Beatles e os Rolling Stones. Metallica, Iron Maiden e Judas Priest estão aí, fazendo apresentações pelo mundo. Bandas como Led Zeppelin e Black Sabbath nos ensinaram outra maneira de tocar guitarra e pensar o rock. O que dizer de Eddie Van Halen? Dimebag Darrell? E nem vou apelar pros malabarismos de técnica e composição do pessoal do rock/metal progressivo. Onde é que estão as grandes estrelas do Rock in Rio hoje? Axl Rose já não sabe cantar e perdeu o impacto que tinha em 1991. Quero ver onde estarão Rihanna, Katy Perry, Ke$ha e seja lá o que for daqui a uns bons 30 ou 40 anos.

No fim das contas, fico com o Sepultura, "we who are not as others", pensar fora da caixinha, ouvir o rock e o metal, que se reinventam a cada disco, a cada banda, numa profusão de estilos, subgêneros e influências.

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