domingo, 7 de setembro de 2008

Metallica, Napster e o gerenciamento de direitos em conteúdos digitais



Essa é uma continuação do post anterior.

Graças a alguma loja francesa que decidiu vender o disco antes da data combinada, o álbum Death Magnetic vazou para a internet. O pessoal aí nos comentários falou que já baixou e ouviu. Resolvi investigar e encontrei diversos blogs com links para download direto pelo rapidshare, zshare, badongo e tantos outros serviços de hospedagem gratuita de arquivos.

O mais estranho foi quando li uma matéria na Whiplash sobre o assunto. O Lars (aquele mesmo que fez o escândalo em torno do Napster e dos downloads de mp3 do grupo) levou a história toda numa boa. As palavras do rapaz foram as seguintes: "Escute, nós estamos há dez dias do lançamento. Digo, nós estamos bem aqui. Se essa coisa vazar no mundo inteiro hoje ou amanhã, bons dias. Bons dias, acredite. Dez dias antes e ele não foi falado mal ainda? Todo mundo está feliz. É 2008 e faz parte de como as coisas são hoje, então está bem. Estamos felizes".

É sr. Ulrich, e pensar que 10 anos atrás (foi isso tudo mesmo? Faz tanto tempo assim?) baixar músicas do Metallica pela internet era quase um dos pecados capitais. Nessas horas eu aprecio algumas bandas que dizem o seguinte: Você entra na internet, baixa o nosso disco, escuta e mostra pros colegas. Quem gostar, vai na loja e compra. Quem não gostar apaga e pronto. Simples assim. Acho esse tipo de posicionamento interessante em duas frentes:

1- Eu não vou experimentar ou testar uns bons 50 reais num disco de uma banda que eu não conheça ou não tenha jamais ouvido.

2- Trocar músicas com os colegas é uma boa maneira de estreitar laços, conversar e descobrir interesses comuns. Além disso, você acaba divulgando o trabalho de uma banda ou artista da melhor e mais honesta forma possível: propaganda boca-a-boca de quem ouviu, gostou e está recomendando. Isso é, no meu ponto de vista, MUITO diferente de ler uma reportagem num lugar qualquer dizendo "Oh, a banda tal é boa, compre já o cd!".

E para que fique registrado: o mesmo é válido para videogames. Já fui tratado como bandido várias vezes por empresas como a EA e a Microsoft. Depois de comprar o jogo, sou obrigado a autenticá-lo e ficar online sempre que quiser jogar para que a minha cópia seja validada. Que absurdo. Já me basta o Starforce e esquemas semelhantes de proteção anti-cópia.

O caso é o seguinte, uma softhouse chamada Stardock faz alguns jogos de estratégia para PC. Alguns de vocês devem conhecer o Galactic Civilization e o Sins of a Solar Empire. O último deles já vendeu mais de 500 mil cópias e o primeiro tem várias expansões. A parte interessante é que eles não colocam qualquer tipo de trava ou verificação de autenticidade online. Caso você esteja pensando, sim, o jogo pode ser baixado e pirateado livremente. O caso aqui é que a Stardock mostrou que a falta de "proteção de conteúdo" não afetou as vendas do produto, nem enfureceu os acionistas, ao contrário do que se pensava.

Para fechar, só uma historinha do que aconteceu comigo.

Em 2004 adquiri um comptador numa grande rede de varejo. Ou seja, fui no mercado e comprei meu PC dividido em prestações beeeem pequeninas. De lá para cá, ele sofreu diversas atualizações: pentes de memória ram, placa de vídeo, gravadora de DVD e por aí vai. Sempre que isso acontecia, eu formatava tudo e instalava o Windows original que veio com a máquina. Baixava toooodas as atualizações do Windows Update de novo e tudo mais.

Depois de sabe-se lá quantas atuaizações, pois agora eu já tinha um belo computador frankenstein, troquei a placa mãe (eu precisava de um slot PCI-Express para minha nova placa de vídeo, na época era uma veloz Nvidia 6800XTreme). Não formatei a máquina pois era só uma placa de vídeo, basta trocar os drivers (antes eu usava uma ATI Radeon 9600PRO). Para minha surpresa, o Windows travou na tela de entrada, me dando uma mensagem de ativação e tudo mais. Não consegui acessar meus próprios dados, incluindo os trabalhos de faculdade.

A solução foi visitar a banca de jornal e comprar uma distribuição do Linux que rodasse direto do CD. Coloquei na máquina alguma versão do Kurumin, que se auto-instalou e detectou todas as minhas peças. Fiz backup da minha antiga pasta Meus Documentos, bem como de alguns outros arquivos.

Tirei o cd, resetei e tentei entrar no Windows de novo. Nada. Liguei para o número fornecido na tela. O suporte da Microsoft me disse que não tinha responsabilidade com a minha máquina, já que ela tinha sido atualizada muitas vezes com peças novas. Liguei para o suporte da Novadata, que fabricou meu PC original. Eles me disseram a mesma coisa. O resultado: uma chave de licença legítima do Windows que deixou de funcionar porque foi ativada muitas vezes por causa da atualização de peças. Ambos os funcionários do suporte técnico tiveram a petulância de me pedir para comprar uma cópia nova do Windows!

O real resultado: uma sensação de desgosto, como se eu tivesse sido roubado. Continuei usando o Windows com uma cópia "student release" que achei flutuando na internet. Ela continha uma documentação dizendo ser gratuita e para uso universitário nos EUA. Achei meio estranho e mandei bala. Fiquei usando o computador assim, dependendo do maldito DirectX para poder continuar jogando. Por isso não migrei tudo para o Linux. Sei que existem emuladores do Windows e do DirectX no sistema do pingüim. Sei também que existem binários universais para alguns jogos. Mas venhamos e convenhamos, o comodismo nos impede de fazer muita coisa.

E hoje? Já estou sem meu monstrinho, ele foi formatado, recebeu alguma distribuição Fedora e foi vendido. Fiquei usando o laptop da minha esposa, um computador HP com tudo original, inclusive o Windows. Tomara que não me venham com essa de ativação ou verificação online de novo, putz.

E pensar que tudo isso começou com um comentário da Laila sobre o Metallica e o Napster...

PS: Farei mais uns comentários sobre o Death Magnetic assim que possível. Deixa eu ouvir o disco mais algumas vezes, poder cantarolar e tocar uns trechos das músicas, aí sim.

Um comentário:

Conservado no ROCK disse...

A democratização desse tipo de mídia é irreversível. É bom os "figurões" da área rebolarem pra bolar algo mais atraente, que valha nossos suados dólares convertidos em reais. Alguém em algum ponto comprou e "democratizou" a bagaça. Já era - domínio público! Os aparelhos eletrônicos, de computação ou som, custam os olhos e as pregas... então ninguém quer gastar desnecessariamente com o que vai neles.
Tirando o que é sagrado (RUSH), nenhum álbum é bom do começo ao fim. Você ouve todas, curte umas e descarta as demais.
Ninguém precisa perder o sono pq ninguém vai perder o emprego. São negócios de bilhões, e eles sempre dão um jeito de nadar em dólares.
O dinheiro a gente economiza para ir aos shows - os que valham a pena!
Quanto ao Metallica, a fase "Hetfield-encontrei-Jesus-no-fundo-da-garrafa" está no estágio probatório. Cliff Burton ainda assombra os three horsemen. Time will tell!