segunda-feira, 21 de julho de 2008

Rush vs. Rolling Stone




Um dia ou dois atrás, um colega me mandou um link com uma matéria da revista Rolling Stone a respeito do Rush. Como bom fã do trio canadense, pensei "Lá vem bomba". Historicamente, a RS nunca deu muita importância ao grupo, usando adjetivos realmente depreciativos para descrever a voz do baixista-vocalista-tecladista Geddy Lee.

Vocês devem estar pensando aí: "Bah, o Jorge escrevendo um texto justo a respeito do Rush? Impossível!". De fato, estão certos. Tudo bem, mas creio que um jornalista sério ou respeitável, apesar dos seus gostos ou desgostos musicais, jamais poderia utilizar expressões como "vocais congestionados que flutuam pelas músicas como gás do pântano". Que tal "berros estratosféricos"? A mais, digamos, justa, seriam os comentários de que a voz de Lee é "desnecessariamente estridente". Ainda assim, sou suspeito para fazer comentários dessa natureza, já que o comentário refere-se ao disco Hemispheres, um dos meus favoritos.

A própria revista, numa matéria atual (10 de julho de 2008) fez uma "análise qualitativa" do debate Rush vs. Rolling Stone. No mesmo dia, uma outra matéria de um repórter que passou alguns dias com o grupo, foi aos shows e etc não perde tempo em caracterizar o público do show de New Orleans como um bando de desajustados sociais. Esses esquisitões sabem o modelo da guitarra utilizada por Alex, cantam junto com a banda em todas as músicas e tocam bateria e os demais instrumentos no ar em perfeita sincronia com o som do grupo.

Não sei o que há de errado em apreciar uma Gibson ES-335 sendo corretamente utilizada. Antes uma dessas na mão do Alex do que num daqueles grupos onde os caras esfregam as guitarras,
trocando entre dois ou três acordes durante a música inteira. E pensar que alguns deles usam Rickenbakers modelo 4001... Me entreguei. Não suporto esses grupos que são alardeados pela mídia como os grandes salvadores do rock, ou o sucesso do verão, ou qualquer coisa parecida. Onde é que eles vão estar daqui a pouco mais de 30 anos? Certamente não no mesmo patamar que o Rush, seja ele medido em vendas de discos, ingressos ou integridade musical.

Engraçado, e eu aqui pensando que o texto da RS seria sobre o grupo, suas músicas, a vida durante a tour, equipamentos e infra-estrutura. Me enganei duplamente, primeiro no foco da matéria, segundo no óbvio respeito, profissionalismo e imparcialidade da equipe da RS.

Veja, não é que ninguém tem obrigação de ser imparcial, justo ou científico o tempo todo. Todo e qualquer crítico musical tem suas preferências, conceitos e preconceitos. Inclusive eu. Qualquer coisa sobre a qual eu decido escrever é fruto de uma escolha, seja ela consciente ou não. Mas como diria o próprio Neil, quando lhe foi pedido que descrevesse Geddy, "ele é uma adorável massa de contradições, assim como qualquer um por aí".

Certamente não tenho todos os eventos, discos e nomes da história do rock na ponta da língua, mas dizer que um disco como o Power Windows é o elo perdido entre o Yes e o Sex Pistols? Que o Presto é uma espécie de techno-metal perfeitamente executado? Xanadu é um momento de rock progressivo meia-boca?

O que eu acho que a RS tenta fazer é encaixar o grupo dentro de um cânone ou de parâmetros já estabelecidos, que sejam familiares para seus leitores. Enquanto escrevi esse texto, as manchetes na página de entrada da revista eram sobre Eminem, Britney Spears, Linkin' Park e Janet Jackson. Está clara a familiaridade e o cuidado dos editores e redatores com o Rush, no específico, e o rock progressivo, de maneira geral.

Para os que querem se divertir, aqui vai um link onde a RS explica o Rush disco-a-disco, com todos os solos de bateria e letras filosóficas.

Obviamente, eu deveria estar ouvindo uma das 500 melhores músicas de Rock de todos os tempos, conforme lista compilada pela RS. Em nono lugar? A profundidade musical-poética de Smells Like Teen Spirit. Talvez Blitzkrieg Bop seja melhor, na posição 92. Purple Rain, 143. Bohemian Rhapsody ficou com a justíssima colocação número 163. Na posição número 346, Dr Dre e 2Pac com sua California Love certamente destroem o Cream em White Room, 21 posições abaixo. Ou Roxanne. Ou Enter Sandman. Ou Smole on the Water. Que tal Ramble On?

Estão fora da lista Estão fora da lista grupos como o Yes, Genesis, e King Crimson. Deep Purple,
Black Sabbath e Pink Floyd possuem quase nenhuma representatividade. Iron Maiden? Nada. Judas Priest? Nem o cheiro. Rush? Heresia! E isso para ficar nos grupos mais conhecidos. Ainda bem que não escolhi nenhuma banda maluca da Suécia.

Revendo minha contabilidade, acho que vou economizar um pouco mais para poder fazer minha assinatura da RS, edições brasileira e estadunidense.

Agora com licença, vou ali assistir o R30 enquanto aguardo o lançamento em DVD do Snakes and Arrows Live e lembro-me dos incríveis Rushkontros em Brasília.

Para quem estava se perguntando, o "VS." da foto veio do ultra-clássico Street Fighter 2 Turbo. Dá-lhe videogames!

YYZ irmãos! 2112 vezes!

4 comentários:

Anônimo disse...

"None of this is likely to impress the New Wave in crowd, which is their loss. Because Power Windows may well be the missing link between Yes and the Sex Pistols."

Caraca, people... Eu tive que ir lá no link para ler com meus próprios olhos! Foi a crítica mais bizarra que eu já vi nos meus 23 anos de rock!...

Adorei o texto! Parabéns!
Beijos,
Belle

Tiago disse...

Você tem certeza que esperava uma crítica construtiva de uma revista que se auto-entitula "pedra rolante"? E que mal te pergunte, sobra alguma coisa após as pedras rolarem?

Você ainda me questiona o porque das boas críticas àqueles artistas de "qualidade inquestionável"? Pense no estrago que seria milhões de pessoas consumindo o material deles. Exatamente, like a rolling stone! Fantástico!

Sem mais.

PS: Alguém tem soro anti ofídico? É que eu acabei de morder a língua...

Jorge2112 disse...

Belle: também achei o comentário da RS totalmente bizarro. Valeu pela visita e keep on rockin'!

tiago: quando as pedras rolam, não costuma sobrar muita coisa. Como é mesmo o ditado? Pedra rolando não cria limo? Eu prefiro as minhas tijoladas do rock clássico, com limo, mofo, umas teias de aranha e aquela meleca verde com o cheiro estranho e gosto pior ainda.

Sim, eu provei.
Eheheh! Abraço!

Akira disse...

Existe um meio de comentar o artigo e expô-lo aos próprios leitores? Isto é um abuso que não ocorre apenas em revistas de público restrito, mas é o grande podre das comunicações atuais. Como diz Robert McChesney (em Herman, ES & Chomsky, N, 2003), "a característica marcante do sistema de mídia global é seu implacável e ubíquo comercialismo", ou seja, nada é divulgado se não for para se vender.

Agora, vou voltar à minha pesquisa de artigos... hehehe



* Herman, ES., Chosmky, N (2003). A Manipulação do Público. São Paulo, Editora Futura.