O ponto-chave desse post não é o SOTN, mas as minhas reflexões e sentimentos que o novo Castlevania me trouxe sobre jogos antigos. De fato, há muito no Lords of Shadow que remete aos jogos anteriores da série. Há um bocado de cenários e inimigos clássicos. Onde fica a fronteira entre as boas memórias (algo como "Putz! Castlevania 3 era muuuuuito bom!") e o senso crítico (examinar o jogo à luz de outros produzidos no mesmo período, tentando não se deixar levar pelas saudades da infância). Ainda que uma leitura imparcial do jogo seja impossível, proponho uma brincadeira com imagens.
Aqui vão umas fotos do castelo. O jogo se chama CASTLEvania, não?
Esse era o castelo no Castlevania 1, de 1986/7.
E depois de passar pelo jardim, era só entrar.
O negócio era que a gente via essas imagens (que hoje a maioria vai considerar como primárias) e ficava impressionado. Era algo como "nossa, estou entrando no castelo mal assombrado do Conde Drácula! Ai-meu-Deus-do-Céu-e-minha-Santa-Genoveva!!!". Na época, eu tinha uns 6 ou 7 anos de idade e ficava efetivamente impressionado com esse tipo de jogo. Basta lembrar que antes do NES havia o Atari.
Ainda haveria uma melhoria significativa no Super Castlevania 4 e no Castlevania 5 / Dracula X / Vampire's Kiss. Isso ocorreu por causa do salto de 8 bits (NES) para 16 bits (SNES). Aqui vai uma amostra:
Entrada do castelo do Super Castlevania 4 de SNES em 1991.
Agora a coisa já está muito menos abstrata do que anteriormente. Mas ainda havia espaço para que a imaginação preenchesse os espaços em branco ou as situações nas quais os gráficos do jogo se esforçavam, mas não davam conta. O negócio é que você ia jogando, passando pelas fases e, na sua cabeça, era como se o jogo fosse assim:
Castlevania Lords of Shadow - PS3 e XBOX360 - 2010.
Talvez mais alguns exemplos sejam necessários. Vejamos:
Castlevania 3 - NES - 1988. Reparem nos arcos, tijolos e lodo das paredes.
Mais uma do Lords of Shadow. Arcos, tijolos e lodo!
Castlevania 4, num esquema meio "cipó".
Lord of Shadow, num esquema meio "cipó".
Vejam, meu ponto não é dizer que um jogo é melhor do que o outro. Eles são diferentes e incríveis, cada um à sua maneira. O que eu quero dizer é o seguinte: a memória filtra e distorce as coisas. Isso é evidente em si mesmo para cenas da vida e também o deveria ser para o mundo dos games. Mas nem sempre é assim. De vez em quando me pego jogando clássicos de PSOne no PS3 via PSN, ou jogos de NES/SNES no Wii via Console Virtual. Em alguns casos foi como "Espera aí, tá faltando algo... Esse jogo era mais bem feito, o som era melhor, os gráficos eram assim e assado...". Cheguei até a pensar que às vezes é melhor deixar o jogo antigo intocado, como se fosse preferível ter na memória os gráficos incríveis e jogabilidade fantástica do que de fato jogar novamente, descobrir que nem era esse jogão todo e se desapontar. Será? Talvez jogar e re-jogar anos depois, com outros olhos, seja um bom exercício de crescimento, ajuda a gente a colocar as coisas em perspectiva.
Em todo caso, diz o Michel de Certeau que o texto é habitável como um apartamento alugado. O leitor cria e recria novos significados e leituras de acordo com as circunstâncias, se apropria do que leu e faz novos usos (ele chama os novos e inesperados usos de "antidisciplina", eita conceitozinho fantástico!). Depois de algum tempo com o Lords of Shadow, vejo que o raciocínio do Certeau, além de pertinente, também vale para os videogames.
Post-scriptum: Façam o favor de ir atrás do Lords of Shadow! Tem o Patrick "Capitão Picard/Professor Xavier" Stewart como dublador e direção das cutscenes do ultra-mestre Hideo Kojima (da série Metal Gear, que rivaliza com Akira/Katsuhiro Otomo quando o negócio é ângulo de câmera e maneira de contar uma história).
2 comentários:
Já terminei o LoS! Pra mim foi tudo que eu esperava de um castlevania, jogão!
Ainda estou no caminho. Sabe como é, tem que dividir o tempo entre o Castlevania, os outros jogos, estudos, família e tal. Terminei o capítulo 1 ontem e pretendo jogar mais um pouco hoje.
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